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Parte 01
※※※※※※※※※※
Pretendo algum dia escrever um livro sobre Billy, se chamará
“Billy Sombra da Noite”, só não vai acontecer ainda, pois tenho muita coisa pra
considerar em questões de estudo narrativo e ainda estou absorvendo isso. Então
até lá vou escrevendo contos sobre este cara e quando estiver bem treinado eu
penso no livro de Billy.
Daniel
Do terraço de um prédio Billy se depara com a mesma cena de
dias atrás.
- Minha Senhora, olá minha Senhora! – grita o rapaz com o
braço estirado, segurando uma carteira, na intensão de parar a caminhada rápida
da velhinha e lhe devolver seu pertence recém perdido.
A velhinha para de caminhar e se vira ao rapaz, logo ela
observa sua carteira na mão do moço, então vasculha sua bolsa em busca de
confirmar a falta deste item.
-Nem precisa procurar minha senhora, diz o rapaz enquanto
ainda se aproximava, -esta se trata realmente de sua carteira, pois eu a vi
cair de sua bolsa.
A velhinha sorri para o moço, -Não sei o que há comigo, que
sempre perco esta carteira.
O rapaz entrega a carteira a senhora e começa a se retirar.
–Espere, -diz a velhinha, -gostaria de lhe retribuir, por sua bondade.
-Não se incomode com isso, -diz o rapaz, -este ato foi tão
pequeno que não precisa ser recompensado, tiau e boa sorte pra você!
O rapaz já se virava para retomar seu caminho, quando a
senhora aumentou a voz para dizer, -Eu insisto meu rapaz, quero recompensá-lo.
-Certo minha Senhora, -disse o rapaz com certa impaciência
no tom, -só vamos rápido com isso, pois apesar de estar de noite, ainda estou
indo para o meu trabalho. Me dê qualquer quantia em dinheiro e eu ficarei
satisfeito.
A velhinha abriu sua bolsa e retirou de lá uma garrafinha
térmica, o rapaz se espantou com o fato, -Minha nossa, agora entendo o porquê
das bolsas femininas estarem cada vez maiores.
-Meu filho, eu não tenho nenhum dinheiro para lhe dar como
recompensa, -lamentou a Senhora, -mas aqui está o fruto de meu trabalho, eu
vendo sucos e gostaria que você bebesse este aqui sem nenhum custo.
O Rapaz achou tudo aquilo muito estranho e tentou não
transparecer suas suspeitas, só pensou que deveria sair dali logo, e de
preferencia sem provar daquele suco.
-Isso é muito legal, disse o rapaz sorridente, preocupado se
não estaria exagerando em sua performance, -Gostaria de saber o sabor desse
suco antes de prová-lo.
-É um suco feito de laranjas, -disse a Senhora.
-Oh! Mas isso é uma pena, minha Senhora, -disse o rapaz
vitorioso, -eu não posso tomar nada que seja feito de laranja, tenho um
problema sério com gastrite, muito obrigado e eu vou embora, cuide mais de sua
carteira.
Então o rapaz se virou e caminhou determinado, rumo à
normalidade de sua vida. A senhora ainda tentou chamá-lo, mas ele se manteve
firme a ignorando totalmente. O rapaz saiu dali com sérias dúvidas quanto a
integridade daquela senhora, mesmo assim não fez nada a respeito.
Depois que o rapaz se foi a velha permaneceu ali naquele
beco. Foi quando Billy percebeu que seu momento de atuar estava próximo, ele
passou a descer as escadarias de incêndio do prédio, com passos habilidosos o
suficiente para minimizar o barulho, que não era capaz de chegar aos ouvidos de
sua vítima. Não havia muita iluminação naquela decida e sua roupa, contribuía
com a fusão na noite, usava um colete, calças e sapatos pretos, também um
Sobre-Tudo para esconder o brilho de suas armas. Mantinha o cabelo comprido e
uma barba fechada, na cabeça levava sempre um chapéu de aba redonda, sem
ondulações.
Billy caminhou em direção a velha que nada desconfiara, ele
vinha pelos cantos, sempre silencioso e entre as sombras de lixeiras, postes ou
carros que ali estavam estacionados. Até que chegou a uma ala entre dois
prédios totalmente sem iluminação que ficava muito próximo a senhora.
“Preciso mudar meus métodos de persuasão” –pensou a senhora,
antes que ela se colocasse a caminhar para o outro lado da rua ela ouviu um
barulho estranho vindo daquela região escura entre os dois prédios logo atrás
dela. Ela parou de súbito como coração assustado, não se aproximou e nem se
afastou, apenas tentou perceber algum movimento que pudesse vir daquela
escuridão, “Não deve ser nada” –disse a sí mesma, tentando se acalmar, “A
melhor coisa que eu posso fazer agora, é ir pra minha casa” –então ela se
colocou a caminhar.
-Laura Aparecida! –uma voz masculina a chamou pelo nome, de
dentro da escuridão.
Laura, a velha, estremeceu e ficou imóvel novamente. Billy
temia despertar o pânico em Laura, pois se esta passasse a correr, Billy teria
que se expor e capturá-la, por isso ele analisava muito o movimento da rua que
se mantinha vazio.
Laura logo inibiu seu medo, pois agora uma voz a chamava, a
curiosidade lhe tomava, pois a muito tempo que as pessoas não a conheciam por
esse nome.
-Quem está ai? –perguntou Laura. Billy se manteve calado
pois a senhora vinha se aproximando lentamente dele, ele não achava necessária
nenhuma outra intervenção.
Billy então se aproximou da extremidade, até aonde as
sombras ainda podiam mantê-lo invisível, firmou o pé, conferiu o acesso a seu
facão na parte interna de seu sobre-tudo, “Só mais um pouco Laura” –pensou.
-Não vai mesmo dizer quem esta falando comigo? –disse a
velha, já muito próxima da sombra onde seu destino se encontrava, -Não vai me
falar nada, não é mesmo, então que tal eu fazer uma ligaç...
Em um súbito movimento Billy avançou para fora das sombras.
Para aquela senhora, foi como se a sombra se tornasse um grande homem à sua
frente. Antes que Laura pudesse entender a situação, Billy já a imobilizara em
um abraço forte trazendo-a imediatamente para as sombras.
※※※※※※※※※※
Billy era antes de mais nada um personagem de minhas historinhas em quadrinhos que fazia quando criança, na época ele era vilão e se chamava “Kid Gavião” – hahah – Os personagens principais naquela época eram Joe e Dan. Bem alguns nomes mudaram, como no caso de Billy, mas a maioria continua os mesmos da época em que os defini em minha infância, acho que não será difícil percebe-los.
Daniel
※※※※※ 02 ※※※※※
-Como assim minhas ações estão caindo de novo, -grita
Esteves ao telefone com seu corretor, -Mês passado eu injetei uma grana pesada
em minha empresa e não melhorou nada?
-As coisas não funcionam assim, Seu Esteves, -diz a voz do
outro lado da linha. –Seu dinheiro foi colocado, até ai tudo bem, mas como os
investidores vão se interessar em procurar suas ações sem saber que elas
existem?
-Você está querendo me dizer para divulgar minhas ações?
–pergunta Esteves enquanto rabisca um papel, com movimentos em “X”.
-Não vá sair por ai divulgando suas ações, -rebate o
corretor de Esteves, -Seria muito importante neste momento, divulgar em todas
as mídias, as melhorias que este investimento feito por você no mês passado,
vai impactar na vida das pessoas. Os investidores estão no meio das pessoas
atentos às empresas que estão se destacando, por isso se você investir
pesadamente na divulgação de sua marca, terá uma grande chance de atrair
investidores.
-É muito lindo isso tudo que você falou, -disse Esteves,
-Mas a questão é: Como vou levantar grana para pagar tanta publicidade, isso
não vai sair barato.
O corretor hesitou por um breve momento e logo tinha uma
resposta, -Bem Senhor Esteves eu não sei de onde você pode retirar esse
dinheiro. Uma maneira de fazer isso é repetir a façanha do mês passado, onde a
gente conversava sobre a necessidade de melhorias em sua empresa e para minha
surpresa, na mesma semana o Senhor apareceu com a quantia necessária, não sei o
que o Senhor fez, precisa fazer novamente e conseguir o dobro dessa quantia.
-Ok! Meu corretor, eu preciso desligar, antes que eu contraia
uma ulcera, -disse Esteves um pouco mais calmo.
-Até nossa próxima ligação Senhor Esteves!
O Senhor Esteves colocou o telefone sem fio, novamente em
seu suporte, se levantou de sua cadeira deixando sua mesa para se direcionar
até a grande janela de vidro do prédio onde fica seu escritório, olhando para a
cidade abaixo dele e depois para o céu, sempre conseguia relaxar para dar
continuidade a seus negócios, que lhe causavam sempre muito stress.
A mente de Esteves estava conturbada demais para conseguir
relaxar, ele coçava a nuca tentando montar uma estratégia para levantar
dinheiro rápido. Foi quando escutou dois toques em sua porta de madeira.
-Entre! –disse Esteves sem dar as costas para a vista da
janela. Era Júlios, seu guarda-costas, o único com permissão de se reportar
diretamente a Esteves. Júlios trazia consigo o jornal do dia e tinha muito
interesse em que seu chefe o analisasse.
-Há uma noticia aqui na capa, -disse Júlios, ele trazia o
jornal enrolado em forma de um tubo, -tenho certeza que vai lhe interessar
muito.
-E sobre o que seria?
-Uma morte. –responde Júlios.
-Eu não preciso de nenhuma noticia pesada por hoje, -disse
Esteves esgotado, -já tenho o suficiente graças minha última ligação. Pode
levar este jornal embora daqui. –Fazendo um sinal com a mão Esteves pedia que
Júlios se retirasse de seu escritório e levasse consigo aquele jornal.
-Sim Senhor Esteves, -disse o guarda-costas, -vou me
retirar, mas o jornal fica, -Júlios atirou o jornal em cima da mesa de Esteves,
que se desenrolou deixando em evidencia a primeira página e sua noticia
trágica, -você sabe que eu nunca me reporto ao Senhor sem que haja por traz
disso um grande motivo, tenha uma boa leitura. –Júlios então se retirou da
presença de Esteves.
Por fim Esteves deu as costas à janela voltando-se para o
ambiente de seu escritório, reparou no jornal que Júlios havia deixado sobre a
mesa olhou em seguida para o seu frigobar no canto da sala, então se direcionou
a ele, o abriu e tirou de dentro um copo e uma garrafa de Uiske serviu-se
generosamente e voltou a sua mesa.
Esteves não tinha o costume de beber em dias uteis como
hoje, a disponibilidade dessa bebida sempre foi atribuída a datas ou
acontecimentos especiais, como o último dia da semana ou fechamentos de
parcerias empresariais, mas hoje o motivo para beber era quebrar sua lucidez,
pois ele queria se sentir pelo menos um pouco fora de toda aquela situação.
Puxou sua cadeira e recostou-se confortavelmente, tomou um
gole do uísque, colocou o copo na mesa aproveitando o movimento para pegar o
jornal e se acomodou a cadeira novamente.
-Vejamos o que temos aqui. –disse enquanto fixava os olhos
na noticia, “SENHORA IDOSA É MORTA BRUTALMENTE EM UMA DAS RUAS MAIS TRANQÜILAS
DE NOSSA CIDADE. TRATA-SE DE UM CRIME VISUALMENTE CHOCANTE, O CORPO FOI
ENCONTRADO SENTADO EM POSE DE BUDA, RECOSTADO EM UMA PAREDE E SOBRE SUAS MÃOS,
NA ALTURA DO VENTRE, A PRÓPRIA CABEÇA DECEPADA”.
“O rosto dessa senhora me lembra o de Elena, uma senhora que
já trabalhou para mim no mês passado”. –pensou Esteves. “Por que tanta firula
para assassinar alguém e quem poderia ir contra uma senhorinha indefesa, deve
ter muita covardia esse assassino”.
-Eu devo estar muito bêbado, pois ainda não
entendi o propósito de Júlios em me mostrar isto, melhor assim. –Esteves passou
a amassar o jornal por um tempo pensando no por que de estar fazendo aquilo.
“Bem eu estou bêbado, esse é um bom motivo” –quando satisfeito jogou aquela
bola de papel dentro do lixo ao lado de sua mesa então se debruçou sobre ela e
dormiu ali mesmo.
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